sábado, 25 de julho de 2015

De limões a DVDs

Meu limão




Limão, por mais sem açúcar que seja, é a fruta mais vendida da banca de frutas.
 – Passou verniz no limão?  pergunta um freguês, sorrindo.
Aceno que sim:
– É o que mais vende. 
– É, só compro aqui – responde escolhendo uma dúzia, ao preço de dois reais.

Meu pai é a pessoa mais feliz do mercadão. Ou ele se torna a mais para mim porque vejo em seus olhos o quanto se encontra no lugar.
– Sempre ganho do Michel, adivinha quanto pesa esse maracujá  propõe falando do meu irmão que o acompanha às vezes na venda.
– 200gr.
– Ah, vou colocar 180gr.  aposta.
A balança marca 190gr. Empatamos. Ele ri com a alegria de quem trabalha a mais de 20 anos vendendo frutas.

Depois de um tempo, ele encontra um plástico-bolha guardado entre os caixotes, começa a estourar as bolhinhas e emenda perguntas sobre o futebol do Rio. Mal sabe ele que não acompanho o futebol carioca. Deve pensar que continuo assistindo futebol como fazia em casa.

Estipulo na minha mente que vou comer às 11h, já que meu pai já perguntara várias vezes quando eu ia tomar café. Segundos depois olho no relógio: 11h02. A banca em que meu pai trabalha fica na parte coberta do lado de fora do espaço apelidado 'oficialmente' pelas pessoas de mercadão. 

Logo, me encaminho para dentro do Mercado Municipal de Taubaté a procura da primeira pastelaria. Uma me agrada, observo os funcionários e procuro algo que me diga o preço. Fico muito feliz ao ver que tinha um papel no ladrilho bem próximo a mim com o valor de cada pastel.
– Quero um pastel de queijo. E... vocês tem café com leite ou, como se diz, pingado?
– Temos sim. Pingado é café com um pouco de leite.

Sentada, enquanto espero o meu pingado, um senhor de 60 a 70 anos de idade chama a minha atenção. Ele vestia camisa xadrez e chapéu. Seu celular toca. O toque: o relinchar de um cavalo. Os jovens funcionários da pastelaria tentam disfarçar os sorrisos e risos discretos. Não conseguem esconder diante dos seus olhos e comentários para uma direção.

Saio de lá satisfeita pensando:
– Crônicas de um dia no mercado.
Próximo a porta de entrada do local uma senhora vende aqueles pirulitos em formato de  chupeta. Um casal de idosos passa:
– Hi  cumprimenta a senhora acompanhada
– Hi  responde a outra.
– Hi, how are you? – diz o senhor.
– Oh, good. – diz a senhora dos doces. Os três riem enquanto prossigo.

A manhã vai passando e mais uma cena: quatro adolescentes com idades entre 14 e 18 anos, estimo, andam apressadamente. Nas mãos carregam caixotes cheios de CDs e DVDs embalados em plásticos. Por duas vezes a corrida se repete, só que com garotos diferentes. Suponho ser mais uma apreensão de produtos piratas. 

Na segunda, meu pai não estava na banca e posso observar o movimento mais atentamente, sozinha com meus pensamentos. Não vejo uma perseguição, só os meninos e seus rostos ofegantes e, ao mesmo tempo, cheios de risos.
– Tá maluco, tio, dei de cara com um!  diz um deles. 

O último olha para trás, segurando seus produtos. Seguem adiante. Já em casa procuro alguma informação sobre o ocorrido. Acredito que as corridas, rostos ofegantes e apreensões sejam rotineiras. A última notícia que encontro é datada do dia 11 deste mês. Sem nenhum preso. Questiono-me sobre o quão pertinente é a questão da pirataria. Além disso, a venda feita por menores de idade levanta outros inúmeros problemas sociais. Enquanto isso, os meninos apenas seguem adiante, ofegantes.


"Meu limão, meu limoeiro
Muitos  limões a espera da bacia
Meu pé de jacarandá
Uma vez skindô lelê,
outra vez, skindô lalá"
(Compositor: José Carlos Burle)

Lizandra Machado
Um dia no mercadão. 25 de julho de 2015
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