sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Carta aberta ao meu querido Charlie





Efêmera. Quando eu aprendi essa palavra, ainda no Ensino Fundamental, não tinha a exata noção do seu peso. Lembro do professor a escrevendo no quadro e seguindo com uma simples explicação: "o que é passageiro, rápido, temporário".

Na madrugada de hoje decidi escutar a música "Efêmera", de Tulipa Ruiz, que pertence ao álbum de mesmo nome lançado em 2010. Depois de escutá-la mais de uma vez, encontro um fan vídeo da referida música. Em tons sépia, o vídeo começa com um gatinho brincando, rolando no chão, se espreguiçando todo. O clipe em tom pessoal traz cenas caseiras de familiares, estradas, passos e causara em mim um sentimento familiar. Logo me vem a mente o meu gato Charlie que mora com a minha mãe e do quanto ele era arisco nos primeiros momentos em que nos conheceu. 
Charlie no inverno de 2013 sem querer tirar foto

Por mera coincidência, ou não, na hora do almoço minha mãe me liga e conta, com uma voz triste, que Charlie morreu na manhã de hoje devido à uma infecção urinária. Houve muitos silêncios naquela ligação. Evitava falar muito por medo de não conseguir pronunciar as palavras. Agora, só quero lhe escrever uma carta de agradecimento.



Charlie Brown Hobbes Machado,

Espero que já tenha encontrado o Gato que partiu bem antes de você nascer. Ele era um ótimo companheiro e dormia sempre que podia. Todo bondoso, irá ajudá-lo nessa sua nova fase. 


Como dividir uma cama
Desculpe-me se alguma vez falhei contigo, e pelo longo tempo em que fiquei fora. Em compensação, aquela cama também era sua e ficava só para você quando eu partia. Aliás, eu dizia que você ficava nas partes mais difíceis para compartilhar a cama, de fato, mas nossos dias foram bons. Ah, foi bem engraçado quando mamãe disse que você tinha arranjado uma namorada. E de mansinho foi levando ela cada vez mais lá, na cozinha, para comer a sua ração e tomar leite. Inclusive, deixava ela se alimentar primeiro para depois, se tivesse acabado, pedir mais para você. Tão solidário. 

Hoje consegui entender porque você era arisco quando nos conhecemos. Você, todo pequeno, cheio de medo. Tudo o que queria era confiança e encontrou na sua arisques uma forma de se proteger. Obrigada, obrigada. 

Saiba que você é muito amado e sentimos a sua partida.



"Congele o tempo preu ficar devagarinho

Com as coisas que eu gosto e que eu sei que são efêmeras

E que passam perecíveis
E acabam, se despedem, mas eu nunca me esqueço"
Efêmera, Tulipa Ruiz



Descanse bem, Charlie.
Com amor, Lizandra.




Efêmera. 09 de outubro de 2015