domingo, 21 de fevereiro de 2016

Spotlight: luzes necessárias





Enquanto assistia Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, de Tom McCarthy, 2015) meus pensamentos iam de encontro ao clássico filme Todos os Homens do Presidente (All the President's Men, de Alan Pakula, 1976), constantemente utilizado para exemplificar teorias no jornalismo. O longa de Pakula retrata a cobertura do caso Watergate, um escândalo de espionagem política envolvendo o presidente republicano Richard Nixon que provocou a sua renúncia. Em 1973, a reportagem chegou a ganhar o prêmio Pulitzer de Serviço Público. 


Em Todos os Homens do Presidente, Carl Bernstein (Dustin Hoffman) e Bob Woodward  (Robert Redford), repórteres do Washington Post, investigam uma invasão que dá origem a um dos maiores escândalos de espionagem política nos EUA


Spotlight é um filme necessário, incômodo e pertinente, baseado numa reportagem também vencedora do prêmio Pulitzer de Serviço Público 30 anos depois. O longa traz ao cinema a denuncia da conivência da Igreja Católica numa série de abusos contra menores praticados por seus sacerdotes na cidade de Boston, nos Estados Unidos.

Desculpe-me, O Regresso (The Revenant, de Alejandro Iñárritu, 2015), que também concorre ao Oscar, mas Spotlight merece ganhar a estatueta de melhor filme. Não apenas por sua representatividade para o jornalismo, mas por expôr, ainda mais, o lado obscuro de uma das maiores instituições. Espero que não aconteça o mesmo de 1977, em que Rocky: Um Lutador (Rocky, de John Avildsen, 1976) levou os prêmios de melhor filme e diretor e Todos os Homens do Presidente apenas o Oscar de melhor ator coadjuvante.
A equipe Spotlight e o novo editor Marty Baron (em pé) que impulsionou o grupo
Por esse link é possível conferir a reportagem que saiu no The Boston Globe, em 06 de janeiro de 2002, escrita por Michael Rezendes, no filme o personagem de Mark Ruffalo, e preparado pela equipe Spotlight. Já por esse, a matéria publicada no dia seguinte, escrita por Sacha Pfeiffer, interpretada por Rachel McAdams no longa, e também preparada pela equipe. Aliás, Ruffalo, melhor pessoa, interpretação humana. 


A 88ª cerimônia de entrega do Oscar acontece no próximo domingo, 28 de fevereiro, às 20h30, horário de Brasília. A transmissão completa e ao vivo para o Brasil e a América Latina pertence a TNT.


Lizandra Machado

Luzes Necessárias. 21 de fevereiro de 2016.




sábado, 21 de novembro de 2015

Consciência Negra todo dia



O dia de ontem (20) foi marcado pelo dia da Consciência Negra. A data é necessária para podermos refletir sobre o negro na sociedade brasileira e do quão importante é lutarmos por sua representatividade e por seus direitos. Na praça da Cantareira, em Niterói, o evento "Viva Zumbi Niterói" trouxe apresentações de umbanda, candomblé, samba, exposição de roupas de santo, venda de roupas étnicas, entre outros.

Na foto, Sandra Bueno vende bonecas e artigos com referenciais afro. O preço das bonecas variam de acordo com o tamanho, de R$5 a R$15. A venda na loja Krioulla's no telefone (21) 99477-4965 e (21) 3285-5948, no Facebook Krioullas Bueno ou pelo e-mail sandrarbo@gmail.com.
Sandra Bueno também vende seus artigos no Horto do Fonseca, em Niterói, aos finais de semana

Sandra Bueno no evento Viva Zumbi Niterói no dia da Consciência Negra

Na barraca ao lado, Ligiane Izaias vende acessórios, como lenços, turbantes e brincos. As peças podem ser compradas na Azizi Acessórios no telefone (21) 98097-1752, no Facebook Azizi Acessórios ou pelo email aziziacessorios@gmail.com.
Ligiane Izaias no evento Viva Zumbi Niterói

Lizandra Machado.
Consciência Negra todo dia. 21 de novembro de 2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Carta aberta ao meu querido Charlie





Efêmera. Quando eu aprendi essa palavra, ainda no Ensino Fundamental, não tinha a exata noção do seu peso. Lembro do professor a escrevendo no quadro e seguindo com uma simples explicação: "o que é passageiro, rápido, temporário".

Na madrugada de hoje decidi escutar a música "Efêmera", de Tulipa Ruiz, que pertence ao álbum de mesmo nome lançado em 2010. Depois de escutá-la mais de uma vez, encontro um fan vídeo da referida música. Em tons sépia, o vídeo começa com um gatinho brincando, rolando no chão, se espreguiçando todo. O clipe em tom pessoal traz cenas caseiras de familiares, estradas, passos e causara em mim um sentimento familiar. Logo me vem a mente o meu gato Charlie que mora com a minha mãe e do quanto ele era arisco nos primeiros momentos em que nos conheceu. 
Charlie no inverno de 2013 sem querer tirar foto

Por mera coincidência, ou não, na hora do almoço minha mãe me liga e conta, com uma voz triste, que Charlie morreu na manhã de hoje devido à uma infecção urinária. Houve muitos silêncios naquela ligação. Evitava falar muito por medo de não conseguir pronunciar as palavras. Agora, só quero lhe escrever uma carta de agradecimento.



Charlie Brown Hobbes Machado,

Espero que já tenha encontrado o Gato que partiu bem antes de você nascer. Ele era um ótimo companheiro e dormia sempre que podia. Todo bondoso, irá ajudá-lo nessa sua nova fase. 


Como dividir uma cama
Desculpe-me se alguma vez falhei contigo, e pelo longo tempo em que fiquei fora. Em compensação, aquela cama também era sua e ficava só para você quando eu partia. Aliás, eu dizia que você ficava nas partes mais difíceis para compartilhar a cama, de fato, mas nossos dias foram bons. Ah, foi bem engraçado quando mamãe disse que você tinha arranjado uma namorada. E de mansinho foi levando ela cada vez mais lá, na cozinha, para comer a sua ração e tomar leite. Inclusive, deixava ela se alimentar primeiro para depois, se tivesse acabado, pedir mais para você. Tão solidário. 

Hoje consegui entender porque você era arisco quando nos conhecemos. Você, todo pequeno, cheio de medo. Tudo o que queria era confiança e encontrou na sua arisques uma forma de se proteger. Obrigada, obrigada. 

Saiba que você é muito amado e sentimos a sua partida.



"Congele o tempo preu ficar devagarinho

Com as coisas que eu gosto e que eu sei que são efêmeras

E que passam perecíveis
E acabam, se despedem, mas eu nunca me esqueço"
Efêmera, Tulipa Ruiz



Descanse bem, Charlie.
Com amor, Lizandra.




Efêmera. 09 de outubro de 2015




sábado, 25 de julho de 2015

De limões a DVDs

Meu limão




Limão, por mais sem açúcar que seja, é a fruta mais vendida da banca de frutas.
 – Passou verniz no limão?  pergunta um freguês, sorrindo.
Aceno que sim:
– É o que mais vende. 
– É, só compro aqui – responde escolhendo uma dúzia, ao preço de dois reais.

Meu pai é a pessoa mais feliz do mercadão. Ou ele se torna a mais para mim porque vejo em seus olhos o quanto se encontra no lugar.
– Sempre ganho do Michel, adivinha quanto pesa esse maracujá  propõe falando do meu irmão que o acompanha às vezes na venda.
– 200gr.
– Ah, vou colocar 180gr.  aposta.
A balança marca 190gr. Empatamos. Ele ri com a alegria de quem trabalha a mais de 20 anos vendendo frutas.

Depois de um tempo, ele encontra um plástico-bolha guardado entre os caixotes, começa a estourar as bolhinhas e emenda perguntas sobre o futebol do Rio. Mal sabe ele que não acompanho o futebol carioca. Deve pensar que continuo assistindo futebol como fazia em casa.

Estipulo na minha mente que vou comer às 11h, já que meu pai já perguntara várias vezes quando eu ia tomar café. Segundos depois olho no relógio: 11h02. A banca em que meu pai trabalha fica na parte coberta do lado de fora do espaço apelidado 'oficialmente' pelas pessoas de mercadão. 

Logo, me encaminho para dentro do Mercado Municipal de Taubaté a procura da primeira pastelaria. Uma me agrada, observo os funcionários e procuro algo que me diga o preço. Fico muito feliz ao ver que tinha um papel no ladrilho bem próximo a mim com o valor de cada pastel.
– Quero um pastel de queijo. E... vocês tem café com leite ou, como se diz, pingado?
– Temos sim. Pingado é café com um pouco de leite.

Sentada, enquanto espero o meu pingado, um senhor de 60 a 70 anos de idade chama a minha atenção. Ele vestia camisa xadrez e chapéu. Seu celular toca. O toque: o relinchar de um cavalo. Os jovens funcionários da pastelaria tentam disfarçar os sorrisos e risos discretos. Não conseguem esconder diante dos seus olhos e comentários para uma direção.

Saio de lá satisfeita pensando:
– Crônicas de um dia no mercado.
Próximo a porta de entrada do local uma senhora vende aqueles pirulitos em formato de  chupeta. Um casal de idosos passa:
– Hi  cumprimenta a senhora acompanhada
– Hi  responde a outra.
– Hi, how are you? – diz o senhor.
– Oh, good. – diz a senhora dos doces. Os três riem enquanto prossigo.

A manhã vai passando e mais uma cena: quatro adolescentes com idades entre 14 e 18 anos, estimo, andam apressadamente. Nas mãos carregam caixotes cheios de CDs e DVDs embalados em plásticos. Por duas vezes a corrida se repete, só que com garotos diferentes. Suponho ser mais uma apreensão de produtos piratas. 

Na segunda, meu pai não estava na banca e posso observar o movimento mais atentamente, sozinha com meus pensamentos. Não vejo uma perseguição, só os meninos e seus rostos ofegantes e, ao mesmo tempo, cheios de risos.
– Tá maluco, tio, dei de cara com um!  diz um deles. 

O último olha para trás, segurando seus produtos. Seguem adiante. Já em casa procuro alguma informação sobre o ocorrido. Acredito que as corridas, rostos ofegantes e apreensões sejam rotineiras. A última notícia que encontro é datada do dia 11 deste mês. Sem nenhum preso. Questiono-me sobre o quão pertinente é a questão da pirataria. Além disso, a venda feita por menores de idade levanta outros inúmeros problemas sociais. Enquanto isso, os meninos apenas seguem adiante, ofegantes.


"Meu limão, meu limoeiro
Muitos  limões a espera da bacia
Meu pé de jacarandá
Uma vez skindô lelê,
outra vez, skindô lalá"
(Compositor: José Carlos Burle)

Lizandra Machado
Um dia no mercadão. 25 de julho de 2015
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quinta-feira, 2 de julho de 2015

A primeira


É difícil escrever quando se tem uma barra piscando no topo de uma página indicando por onde se deve olhar para digitar. Será que é mesmo preciso? São 5h05 da manhã. Five o Five. Gosto de ouvir essa música, me soa bem.

A primeira postagem deveria começar com algo mais especial. Posso contar que escolhi o nome "Em linhas, entrelinhas" em pouco mais de dois minutos. Achei estranho porque estava disponível. Como ninguém pensou nesse nome antes? Existem tantos blogs por aí, não há tantos nomes impensados. Aliás, não sei ao certo o porquê do nome. Fiz um curso rápido de costura quando tinha 15 anos, logo linha me veio a mente. Depois, entrelinhas se juntou a linhas. Como se as palavras aqui pudessem ficar subentendidas, talvez. Ou pudessem se perder entre as linhas de cada frase.

Nessas linhas pretendo escrever sobre a vida, o universo e tudo mais. Ah, ainda não me apresentei! Meu nome é Lizandra, Li para os paulistas e Liz para os cariocas. Alguns amigos me chamam de outros apelidos variados também. "Uma taubateana em terras niteroienses", como descreve meu Instagram. Nasci em Taubaté, no interior de São Paulo e desde os 18 anos moro em Niterói, cidade da linda Jout Jout, do ladinho do Rio. Estudo jornalismo na Universidade Federal Fluminense, a querida UFF (lê-se ufê, e não uéfêéfê, como eu falei antes de vir pra cá, confesso). No dia 8 de setembro completarei dois anos aqui do outro lado da ponte. Sim, tenho 20 anos.

O motivo. Por que o criei? Sempre quis ter esse espaço e nunca tive coragem. Então, a madrugada é para ganhar coragem e fazer coisas. O principal é que eu preciso escrever para melhorar a cada dia. Será um espaço de "experimentalismo". Poderei errar, sem sombra de dúvidas, seja na ortografia, na gramática, na coesão, na concisão, entre outras. E vou. Por fim, espero aproveitar.

Um bom dia.

Uma das minhas fotografias prediletas. A capturei no dia 22 de maio de 2014, na rua da Conceição, em Niterói. De qualquer maneira, combinou com aqui. Ela me faz pensar que estamos todos entrelaçados de uma forma, ou de outra. Ainda bem.